sábado, 31 de dezembro de 2005

Introspectiva

Enfim, mais um ano se vai e um novo ano está engatilhado. Mais trabalho, mais diversão, mais ratos, mais um monte de coisas... Mais alegrias, mais tristezas, mais brigas, mais beijos; nada mais natural que um monte de imperfeições, que nada mais são que o reflexo de nossa humanidade (Ooooooooh... Filosofia de buteco é o que há!)
Nunca gostei de horóscopos, mapas astrais, essas coisas meio esotéricas. Sempre achei uma "viagem" meio tosca, uma dessas superstições bobas de jornaleco. Mas, como futuro psicólogo e como uma pessoa que se propõe ao esclarecimento, não tenho o direito de exercitar meus preconceitos.

Um belo dia - hoje, por acaso - estava eu navegando na Internet, na jandaga do Ministro Gil, quando me deparei com um anúncio de horóscopo, aquelas previsões de início de ano. Resolvi dar uma espiadinha. Creio que todos deveriam dar uma olhadinha nessas coisas; por via das dúvidas, não é verdade!? Li que o planeta regente do ano será Saturno, dito um destruidor de ilusões, arauto da realidade. Como bem ilustrou no site do iG Mônica Horta, ele "é mestre em fazer lindas carruagens voltarem a ser abóboras".

Particularmente, achei muito interessante. Tomara que dê certo.
Esoterices à parte...

Esse ano que se vai foi muito bom pra mim. Eu estou fazendo um curso legal numa universidade muito boa, conheci (como diz Carlão, o enorme professor de física do Anglo Itapira, entre outros) carinhas e gatinhas que são pessoas maravilhosas, diferentes e interessantes, amigos novos num lugar novo, estou 100% de alta agora!! Tive meus baixos: gripão no primeiro dia de aula, apendicite no meio do segundo semestre e alguns pormenores que incomodaram mas não atrapalharam de verdade este ano incrível!
E o ano que está batendo à porta, que nem o frio das Pernambucanas, e que será muito bem-vindo, também traz a Bixarada, veteranaiadas, estágio, layout novo...
E eu gostaria de satistazer uma pequena frescura de minha parte, mas que eu acho que fecha bem esse ano e essa postagem festiva de volta à normalidade - de apendicite eu não morro mais!!! - e ida rumo a 2006.

Aquela velha coisa dos pontos de vista... Sabe, não é que exista um ângulo certo ou perfeito para certas coisas, mas há sempre uma maneira mais interessante e construtiva, e talvez até mais realista, de se olhar os mesmos acontecimentos, os mesmos fatos. Vejam bem: não estou teorizando ou generalizando, é apenas o meu humilde ponto de vista, que talvez não seja o mais apropriado. Talvez esse encerramento esteja, na verdade, desviando o caminho de todo o texto acima.

Bem, tentarei ilustrar no universo musical esse fechamento (talvez desastroso). Esses dias eu ouvi uma música chamada "Fico assim sem você", composta por Cacá Moraes a Abdullah, que conta com versões Claudinho e Buchecha e Adriana "Partimpim" Calcanhoto. Gostaria que cada um que lesse essa postagem (a última do ano) ouvisse as respectivas versões (emprestadas da Rádio Uol), clicando nos respectivos links (abra em uma nova janela este link e escolha a versão), e comentasse sobre qual a versão, a seu ver, mais adequada à canção, qual a melhor roupagem. Veja bem que a música em si não muda, apenas o jeito de olhar muda (conteúdo e forma, velhas balelas de psicólogos...).
É isso aí, pessoal! Termina mais um translado terestre e, debaixo deste sol radiante e cancerígeno, desejo a todos um feliz clichê de ano novo, muito branco e champagne e até 2006!

domingo, 27 de novembro de 2005

Diários de Ambulância IV

Snif, snif... Nenhum comentário na última postagem...
Oh, céus... Oh, vida...
Bom, o mundo ainda não acabou! E eu ainda tenho que terminar o meu rato!
Mas eu volto agora a postar PSICOLOGIA nesse blogaço; uma pesquisa sobre sonhos lúcidos (nunca tive), pesadelos (alguns, mas o melhor foi aquele que eu tava caindo do penhasco) e Gestalt (aê!).
Comentem (é sério!)...
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Áustria apresenta método que acaba com pesadelos

Cristina Casals, da Efe

Viena - As pessoas que sofrem de pesadelos rotineiros têm agora a possibilidade de submeter-se a um tratamento psicoterapêutico para chegar a uma solução feliz para esse mal, que muitas vezes acaba deteriorando a qualidade de vida. A afirmação foi feita pelos autores de um estudo realizado no Instituto de Pesquisa da Consciência e do Sonho do Hospital Geral de Viena.

Através da nova técnica, o sonhador, devidamente treinado e com o apoio de um psicólogo, recobra consciência de sua liberdade de intervir no sonho e chega até mesmo a controlar seu pesadelo, alterando-o à sua vontade.

Através do treinamento mental, a pessoa pode mudar, por exemplo, uma situação em que ele cai num abismo sem fim durante um pesadelo para começar a voar.

O estudo foi apresentado na programação que antecede o Ano Freudiano, em 2006, para comemorar o 150.º aniversário de nascimento do "pai da psicanálise", Sigmund Freud.

As pesquisas são baseadas em conhecimentos que remetem inclusive à época de Freud e a especialistas que estiveram em contato com ele, como o holandês Frederik Willems Van Eeden, que inventou o conceito de sonho lúcido.

Mas os estudiosos também recorrem à análise do sonho, como afirmou William Dement, um dos descobridores das fases do sono definida como REM (de movimentos rápidos dos olhos). Esta é a fase de sono mais profunda, especialmente importante para a memória e para os sonhos.

: :Sonho lúcido
O sonho lúcido foi definido por Paul Tholey, especialista alemão em Ppsicologia da Gestalt, como um sonho em estado de consciência clara. O indivíduo sabe que está sonhando e tem a convicção de que é possível mudar o curso do que se vive neste estado.

Trata-se de uma técnica que pode ser aprendida, como se comprovou através da observação de 32 pessoas que se submeteram a um tratamento de Gestalt durante seis meses. Parte do grupo participou ainda do treinamento para ter sonhos lúcidos - o que acabou tornando-se a maneira mais eficiente de combater pesadelos.

Mais da metade destas pessoas conseguiram aprender o método, que envolve a anotação de tudo o que se lembra dos sonhos em um diário. A aprendizagem começa quando o paciente conhece o fenômeno do sonho lúcido e prepara o terreno para o sonhador, sabendo que os sonhos dependem também de nossas expectativas.

A maioria dos pacientes apresentou uma melhora considerável na qualidade subjetiva de seus sonhos. Três pessoas inclusive disseram que, ao final do tratamento, nunca mais sofreram de pesadelos crônicos.

As melhoras puderam ser comprovadas através da medição da atividade física durante a noite, feita por um dispositivo do tamanho de um relógio que os candidatos usaram 24 horas por dia, e registrava a atividade cerebral no eletroencefalograma, segundo afirmou o especialista em medicina do sono Bernd Saletu.

: :Euforia e liberdade
A diretora do estudo, Brigitte Holzinger, discípula dos pioneiros Paul Tholey e Stephen LaBerge da Universidade de Stanford, observou que o método do sonho lúcido não apenas acaba com os pesadelos recorrentes mas, em alguns casos, chega a provocar uma sensação de euforia e liberdade jamais experimentadas.

Segundo ela, alguns artistas procuram o tratamento, pois a experiência onírica controlada vem se mostrando muito favorável para sua criatividade.

Para ajudar, os candidatos usam também um método de representação de situações angustiantes vividas durante o sonho em grupos terapêuticos, ou até mesmo em sessões particulares com o terapeuta.

A chefe do estudo mencionou diversos casos concretos nos quais as pessoas em questão conseguiram se livrar de pesadelos que as perseguiam rotineiramente.

Uma mulher, por exemplo, ficou traumatizada desde que, ainda durante sua juventude, acordou à noite vendo um ladrão ao lado de sua cama. A lembrança lhe causava pesadelos angustiantes, até que conseguiu tomar consciência de que havia ajudado sua família, pois conseguiu escapar para outro quarto e chamar a polícia.

Desta maneira, ela pôde solucionar positivamente os sonhos que a incomodavam.

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Já diziam os antigos...

"A loucura é o sonho de uma única pessoa. A razão, é sem dúvida, a loucura de todos." André Suarés

segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Ambulance Diaries III

Esse artigo não tem nada a ver com psicologia (talvez seja um estudo de caso sobre fanatismo, ceticismo, psicopatologia teológica...), lamentavelmente está em inglês, mas é um exemplar exuberante da atual força que tem o movimento criacionista e suas ramificações "científicas" (essa é minha humilde opinião; posso estar falando um monte de porcaria). Eu achei interessante postar ele, e acho igualmente interessante o periódico no qual saiu: TheOnion.com (não preciso escrever o endereço, né?).
Enjoy!
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Evangelical Scientists Refute Gravity With New 'Intelligent Falling' Theory

KANSAS CITY, KS—As the debate over the teaching of evolution in public schools continues, a new controversy over the science curriculum arose Monday in this embattled Midwestern state. Scientists from the Evangelical Center For Faith-Based Reasoning are now asserting that the long-held "theory of gravity" is flawed, and they have responded to it with a new theory of Intelligent Falling.

"Things fall not because they are acted upon by some gravitational force, but because a higher intelligence, 'God' if you will, is pushing them down," said Gabriel Burdett, who holds degrees in education, applied Scripture, and physics from Oral Roberts University.
Burdett added: "Gravity—which is taught to our children as a law—is founded on great gaps in understanding. The laws predict the mutual force between all bodies of mass, but they cannot explain that force. Isaac Newton himself said, 'I suspect that my theories may all depend upon a force for which philosophers have searched all of nature in vain.' Of course, he is alluding to a higher power."
Founded in 1987, the ECFR is the world's leading institution of evangelical physics, a branch of physics based on literal interpretation of the Bible.
According to the ECFR paper published simultaneously this week in the International Journal Of Science and the adolescent magazine God's Word For Teens!, there are many phenomena that cannot be explained by secular gravity alone, including such mysteries as how angels fly, how Jesus ascended into Heaven, and how Satan fell when cast out of Paradise.
The ECFR, in conjunction with the Christian Coalition and other Christian conservative action groups, is calling for public-school curriculums to give equal time to the Intelligent Falling theory. They insist they are not asking that the theory of gravity be banned from schools, but only that students be offered both sides of the issue "so they can make an informed decision."
"We just want the best possible education for Kansas' kids," Burdett said.
Proponents of Intelligent Falling assert that the different theories used by secular physicists to explain gravity are not internally consistent. Even critics of Intelligent Falling admit that Einstein's ideas about gravity are mathematically irreconcilable with quantum mechanics. This fact, Intelligent Falling proponents say, proves that gravity is a theory in crisis.
"Let's take a look at the evidence," said ECFR senior fellow Gregory Lunsden."In Matthew 15:14, Jesus says, 'And if the blind lead the blind, both shall fall into the ditch.' He says nothing about some gravity making them fall—just that they will fall. Then, in Job 5:7, we read, 'But mankind is born to trouble, as surely as sparks fly upwards.' If gravity is pulling everything down, why do the sparks fly upwards with great surety? This clearly indicates that a conscious intelligence governs all falling."
Critics of Intelligent Falling point out that gravity is a provable law based on empirical observations of natural phenomena. Evangelical physicists, however, insist that there is no conflict between Newton's mathematics and Holy Scripture.
"Closed-minded gravitists cannot find a way to make Einstein's general relativity match up with the subatomic quantum world," said Dr. Ellen Carson, a leading Intelligent Falling expert known for her work with the Kansan Youth Ministry. "They've been trying to do it for the better part of a century now, and despite all their empirical observation and carefully compiled data, they still don't know how."
"Traditional scientists admit that they cannot explain how gravitation is supposed to work," Carson said. "What the gravity-agenda scientists need to realize is that 'gravity waves' and 'gravitons' are just secular words for 'God can do whatever He wants.'"
Some evangelical physicists propose that Intelligent Falling provides an elegant solution to the central problem of modern physics.
"Anti-falling physicists have been theorizing for decades about the 'electromagnetic force,' the 'weak nuclear force,' the 'strong nuclear force,' and so-called 'force of gravity,'" Burdett said. "And they tilt their findings toward trying to unite them into one force. But readers of the Bible have already known for millennia what this one, unified force is: His name is Jesus."

domingo, 23 de outubro de 2005

Diários de Ambulância II

estou eu novamente, convalescente e preguiçoso porém empenhado, postando no meu querido Blog (isso mesmo, com "B" maiúsculo). Hoje postarei um texto idiota, porém intrigante...
Façam o que bem entenderem: comentem, xinguem, etc. etc. etc.
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Prova de física

por Seilah Kem

Pergunta feita pelo Prof . Fernando da FATEC em sua prova final do curso em maio de 1997. Este doutor é reconhecido por fazer perguntas do tipo "Por que os aviões voam?" em suas provas finais.

Sua única questão na prova final de maio de 1997 para sua turma foi: "O inferno é exotérmico ou endotérmico? Justifique sua resposta."

Vários alunos justificaram suas opiniões baseados na Lei de Boyle ou em alguma variante da mesma.

Um aluno, entretanto, escreveu o seguinte:

"Primeiramente, postulamos que se almas existem, então elas devem ter alguma massa. Se elas tem, então um conjunto de almas também tem massa. Então, a que taxa as almas estão se movendo para fora e a que taxa elas estão se movendo para dentro do inferno? Podemos assumir seguramente que uma vez que uma alma entra no inferno ela nunca mais sai. Por isso não há almas saindo. Para as almas que entram no inferno, vamos dar uma olhada nas diferentes religiões que existem no mundo hoje em dia: algumas dessas religiões pregam que se você não pertencer a ela, você vai para o inferno... Como há mais de uma religião desse tipo e as pessoas não possuem duas religiões, podemos projetar que todas as almas vão para o inferno. Com as taxas de natalidade e mortalidade do jeito que estão, podemos esperar um crescimento exponencial das almas no inferno. Agora vamos olhar a taxa de mudança de volume no inferno. A Lei de Boyle diz que para a temperatura e a pressão no inferno serem as mesmas, a relação entre a massa das almas e o volume do inferno deve ser constante.

Existem então duas opções:

1) Se o inferno se expandir numa taxa menor do que a taxa com que as almas entram, então a temperatura e a pressão no inferno vão aumentar até ele explodir, portanto EXOTÉRMICO.

2) Se o inferno estiver se expandindo numa taxa maior do que a entrada de almas, então a temperatura e a pressão irão baixar até que o inferno se congele, portanto ENDOTÉRMICO.

Se nós aceitarmos o que a menina mais gostosa da FATEC me disse, no primeiro ano: "só irei pra cama com você no dia que o inferno congelar", e levando-se em conta que ainda não obtive sucesso na tentativa de ter relações sexuais com ela, então a opção 2 não é verdadeira. Por isso, o inferno é exotérmico."

O aluno Sérgio Fonseca tirou o único 10 na turma.

MORAL DA HISTÓRIA: "A mente que se abre a uma nova idéia jamais volta ao seu tamanho original." (Albert Einstein).
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Seilah Kem é um árabe muito misterioso...

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

Diários de Ambulância

NO APÊNDICE :: NO MAMATA :: YES LIÇÃO DE CASA
Trocadilhos à parte, estarei usando esse título para as postagens enquanto não se completarem os 70 dias da minha plena recuperação, em 2 de dezembro. Também não há previsão de regularização do fluxo de postagens, devido minha condição geral. E também não havérá postagem hoje. Motivo? Sem peciência pra ficar achando as coisinhas pra por aqui. Estou aberto a sugestões; se alguém quiser ver um texto de sua autoria afixado neste sacrossanto já beatificado (redundante não, enfático!) espaço, pode ficar à vontade: diminui meu trabalho e aumenta seu prestígio (hehehe...).
Depois de ter visto minha viola em cacos, quero ver as suas enluaradas (parafraseando Däh Cunha, R. E.T.C.: "Pegou? Pegou?")!

terça-feira, 13 de setembro de 2005

Opinião

Vocês podem até estranhar tão diminuta postagem, mas é de interesse vital para esse blog. Sem brincadeiras, gostaria de saber de quem quer que seja (os amigos, o padeiro, o Barba) o que está achando de toda essa mistura de temas, e disso em relação à proposta inicial do blog (vejam as primeiras postagens). Eu quero toda a sinceridade possível: está gostando ou não, é um lixo ou é bom, o modelo é legal, aborda temas interessantes, etc., ou seja, tudo que englobe o blog num panorama geral.
Mesmo que nada mude, ninguém mais visite e eu fique um Dom Quixote doidão postando pros moinhos de vento, é importante pra mim, Lucas, que eu saiba como vocês vêem esse blog.
Obrigado, e cooperem, por favor.

domingo, 4 de setembro de 2005

Esquenta o mármore!!!

Depois de entupirem a caixa de e-mails com milhares de milhares de milhares de pedidos, e nos mandarem centenas de dezenas de unidades de cartas, o blog será atualizado.
Fiquem tranqüilos, fãs! Não entraremos em greve!
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:: Psicologia

Sociedade em Miniatura

Filas longas cansam mas têm sua utilidade: podem até ser palco para estudos de comportamento.

Por Juliana Tiraboschi (
jtiraboschi@edglobo.com.br)

Quem nunca se irritou ao esperar sua vez em uma fila demorada que atire a primeira pedra. Aparentemente um acontecimento tão banal do dia-a-dia de qualquer pessoa, as filas podem ser usadas como objeto de estudo para ajudar a entender diversos aspectos do funcionamento da sociedade, como valores e questões como agressividade e noções de justiça. É o que vem fazendo há mais de dois anos o psicólogo Fábio Iglesias, pesquisador da Universidade de Brasília.

Diversos estudos foram realizados em Brasília pelo psicólogo para identificar a percepção dos entrevistados em relação à sua posição nas filas, ao tempo de espera, e o que as pessoas pensam de quem fura a fila. Os resultados são curiosos. A maioria das pessoas que estão nas primeiras posições da fila exagera na quantidade de pessoas à sua frente. Uma pessoa que está em 20º lugar, por exemplo, pode achar que tem 50 na sua frente. “Isso pode ser um mecanismo psicológico para justificar uma demora no atendimento”, explica Iglesias. Já os que estão mais atrás costumam pensar que há menos gente na sua frente do que na realidade. Mais uma vez seria um mecanismo de compensação, uma forma de reduzir a ansiedade. “Outra descoberta foi que, independente da posição em que está na fila, todo mundo exagera na hora de responder qual foi o tempo de espera”, revela Iglesias. Alguns chegam a relatar uma espera de 5 minutos como se fosse de 20. Isso porque como a espera é sempre desagradável, as pessoas tendem a ser pessimistas. As pessoas acreditam que a fila é perda de tempo, monótona, e o exagero é uma forma de expressar o desconforto.

::Sem protestos
A terceira principal constatação é que pouquíssimas pessoas intervêm quando alguém fura a fila. Em um de seus estudos, Iglesias reuniu alguns alunos para bancarem o papel de “fura-filas”, e filmou a reação das pessoas. O resultado: 63% simplesmente não reagiram, 25% tiveram uma reação indireta, ou seja, olharam feio para o transgressor ou fizeram algum comentário com o vizinho de fila, e apenas 12% reagiram diretamente, falando com o furão e apontando onde era o início da fila. Iglesias acredita que esse tipo de comportamento seja um reflexo de uma cultura coletivista: “a pessoa pensa que, se ninguém mais está reclamando, ela também não deve dizer nada, ficam constrangidas em protestar”, conta. (Ver, a propósito, “Magnetismo da imitação” da edição 168) Além disso, muita gente alega fazer vista grossa para um furão porque de vez em quando também age da mesma forma. O pesquisador acredita que as filas podem ser laboratórios naturais, partindo da premissa de que são organizações sociais dotadas de normas, papéis e valores diferenciados. Ele também defende a padronização de situações de estudo para que os resultados possam ser comparados com outras cidades e até com outros países. Pense nisso quando tiver que enfrentar uma fila quilométrica.

::Unidos até nas filas
O psicólogo Fábio Iglesias propõe que o estudo das filas possa ser usado como instrumento prático para analisar valores culturais em um eixo que vai do individualismo ao coletivismo. Se alguém perguntar a um americano quem ele é, provavelmente irá contar seu nome, profissão e gostos pessoais. “Se fizer a mesma pergunta a um brasileiro, há mais chances de que ele diga a qual família pertence, de qual religião é adepto ou para qual time de futebol torce”, diz Iglesias. Ou seja, o brasileiro costuma identificar-se mais com grupos. Em uma cultura mais individualista, como a americana, as pessoas tendem a ser mais autônomas, e espera-se que reclamem mais quando alguém fura fila porque o outro está invadindo seu espaço. Já no Brasil os indivíduos precisam mais do grupo para guiar suas atitudes. Quando vêem um “furão”, provavelmente vão reparar nas atitudes dos companheiros antes de dizer qualquer coisa.
FONTE: Revista Galileu (antiga Globo Ciência), de agosto de 2005.
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Já diziam os antigos...
"A ingenuidade é uma força que os astutos fazem mal em desprezar." Arturo Graf

domingo, 14 de agosto de 2005

Sem sobressalto.

Só pra variar, estou botando algo novo de novo nessa espelunca. Por seu tamanho e profundidade, só postarei um conto ou crônica (ou o que quer que seja) do Mário de Andrade, que não trata do Dia dos Pais. Aliás, logo se perceberá que não poderia, do modo algum, tratar do Dia dos Pais. E o tom lírico-amoroso desse festivo dia dará lugar a uma sinceridade e hombridade incomuns..
O ibope aqui tá bom, continuem comentando!
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O Peru de Natal

por Mário de Andrade

O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de conseqüências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, de uma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.

Morreu meu pai, sentimos muito, etc. Quando chegamos nas proximidades do Natal, eu já estava que não podia mais pra afastar aquela memória obstruente do morto, que parecia ter sistematizado pra sempre a obrigação de uma lembrança dolorosa em cada almoço, em cada gesto mínimo da família. Uma vez que eu sugerira à mamãe a idéia dela ir ver uma fita no cinema, o que resultou foram lágrimas. Onde se viu ir ao cinema, de luto pesado! A dor já estava sendo cultivada pelas aparências, e eu, que sempre gostara apenas regularmente de meu pai, mais por instinto de filho que por espontaneidade de amor, me via a ponto de aborrecer o bom do morto.

Foi decerto por isto que me nasceu, esta sim, espontaneamente, a idéia de fazer uma das minhas chamadas "loucuras". Essa fora aliás, e desde muito cedo, a minha esplêndida conquista contra o ambiente familiar. Desde cedinho, desde os tempos de ginásio, em que arranjava regularmente uma reprovação todos os anos; desde o beijo às escondidas, numa prima, aos dez anos, descoberto por Tia Velha, uma detestável de tia; e principalmente desde as lições que dei ou recebi, não sei, de uma criada de parentes: eu consegui no reformatório do lar e na vasta parentagem, a fama conciliatória de "louco". "É doido, coitado!" falavam. Meus pais falavam com certa tristeza condescendente, o resto da parentagem buscando exemplo para os filhos e provavelmente com aquele prazer dos que se convencem de alguma superioridade. Não tinham doidos entre os filhos. Pois foi o que me salvou, essa fama. Fiz tudo o que a vida me apresentou e o meu ser exigia para se realizar com integridade. E me deixaram fazer tudo, porque eu era doido, coitado. Resultou disso uma existência sem complexos, de que não posso me queixar um nada.

Era costume sempre, na família, a ceia de Natal. Ceia reles, já se imagina: ceia tipo meu pai, castanhas, figos, passas, depois da Missa do Galo. Empanturrados de amêndoas e nozes (quanto discutimos os três manos por causa dos quebra-nozes...), empanturrados de castanhas e monotonias, a gente se abraçava e ia pra cama. Foi lembrando isso que arrebentei com uma das minhas "loucuras":

— Bom, no Natal, quero comer peru.

Houve um desses espantos que ninguém não imagina. Logo minha tia solteirona e santa, que morava conosco, advertiu que não podíamos convidar ninguém por causa do luto.

— Mas quem falou de convidar ninguém! essa mania... Quando é que a gente já comeu peru em nossa vida! Peru aqui em casa é prato de festa, vem toda essa parentada do diabo...

— Meu filho, não fale assim...

— Pois falo, pronto!

E descarreguei minha gelada indiferença pela nossa parentagem infinita, diz-que vinda de bandeirantes, que bem me importa! Era mesmo o momento pra desenvolver minha teoria de doido, coitado, não perdi a ocasião. Me deu de sopetão uma ternura imensa por mamãe e titia, minhas duas mães, três com minha irmã, as três mães que sempre me divinizaram a vida. Era sempre aquilo: vinha aniversário de alguém e só então faziam peru naquela casa. Peru era prato de festa: uma imundície de parentes já preparados pela tradição, invadiam a casa por causa do peru, das empadinhas e dos doces. Minhas três mães, três dias antes já não sabiam da vida senão trabalhar, trabalhar no preparo de doces e frios finíssimos de bem feitos, a parentagem devorava tudo e ainda levava embrulhinhos pros que não tinham podido vir. As minhas três mães mal podiam de exaustas. Do peru, só no enterro dos ossos, no dia seguinte, é que mamãe com titia ainda provavam num naco de perna, vago, escuro, perdido no arroz alvo. E isso mesmo era mamãe quem servia, catava tudo pro velho e pros filhos. Na verdade ninguém sabia de fato o que era peru em nossa casa, peru resto de festa.

Não, não se convidava ninguém, era um peru pra nós, cinco pessoas. E havia de ser com duas farofas, a gorda com os miúdos, e a seca, douradinha, com bastante manteiga. Queria o papo recheado só com a farofa gorda, em que havíamos de ajuntar ameixa preta, nozes e um cálice de xerez, como aprendera na casa da Rose, muito minha companheira. Está claro que omiti onde aprendera a receita, mas todos desconfiaram. E ficaram logo naquele ar de incenso assoprado, se não seria tentação do Dianho aproveitar receita tão gostosa. E cerveja bem gelada, eu garantia quase gritando. É certo que com meus "gostos", já bastante afinados fora do lar, pensei primeiro num vinho bom, completamente francês. Mas a ternura por mamãe venceu o doido, mamãe adorava cerveja.

Quando acabei meus projetos, notei bem, todos estavam felicíssimos, num desejo danado de fazer aquela loucura em que eu estourara. Bem que sabiam, era loucura sim, mas todos se faziam imaginar que eu sozinho é que estava desejando muito aquilo e havia jeito fácil de empurrarem pra cima de mim a... culpa de seus desejos enormes. Sorriam se entreolhando, tímidos como pombas desgarradas, até que minha irmã resolveu o consentimento geral:

— É louco mesmo!...

Comprou-se o peru, fez-se o peru, etc. E depois de uma Missa do Galo bem mal rezada, se deu o nosso mais maravilhoso Natal. Fora engraçado:assim que me lembrara de que finalmente ia fazer mamãe comer peru, não fizera outra coisa aqueles dias que pensar nela, sentir ternura por ela, amar minha velhinha adorada. E meus manos também, estavam no mesmo ritmo violento de amor, todos dominados pela felicidade nova que o peru vinha imprimindo na família. De modo que, ainda disfarçando as coisas, deixei muito sossegado que mamãe cortasse todo o peito do peru. Um momento aliás, ela parou, feito fatias um dos lados do peito da ave, não resistindo àquelas leis de economia que sempre a tinham entorpecido numa quase pobreza sem razão.

— Não senhora, corte inteiro! Só eu como tudo isso!

Era mentira. O amor familiar estava por tal forma incandescente em mim, que até era capaz de comer pouco, só-pra que os outros quatro comessem demais. E o diapasão dos outros era o mesmo. Aquele peru comido a sós, redescobria em cada um o que a quotidianidade abafara por completo, amor, paixão de mãe, paixão de filhos. Deus me perdoe mas estou pensando em Jesus... Naquela casa de burgueses bem modestos, estava se realizando um milagre digno do Natal de um Deus. O peito do peru ficou inteiramente reduzido a fatias amplas.

— Eu que sirvo!

"É louco, mesmo" pois por que havia de servir, se sempre mamãe servira naquela casa! Entre risos, os grandes pratos cheios foram passados pra mim e principiei uma distribuição heróica, enquanto mandava meu mano servir a cerveja. Tomei conta logo de um pedaço admirável da "casca", cheio de gordura e pus no prato. E depois vastas fatias brancas. A voz severizada de mamãe cortou o espaço angustiado com que todos aspiravam pela sua parte no peru:

— Se lembre de seus manos, Juca!

Quando que ela havia de imaginar, a pobre! que aquele era o prato dela, da Mãe, da minha amiga maltratada, que sabia da Rose, que sabia meus crimes, a que eu só lembrava de comunicar o que fazia sofrer! O prato ficou sublime.

— Mamãe, este é o da senhora! Não! não passe não!

Foi quando ela não pode mais com tanta comoção e principiou chorando. Minha tia também, logo percebendo que o novo prato sublime seria o dela, entrou no refrão das lágrimas. E minha irmã, que jamais viu lágrima sem abrir a torneirinha também, se esparramou no choro. Então principiei dizendo muitos desaforos pra não chorar também, tinha dezenove anos... Diabo de família besta que via peru e chorava! coisas assim. Todos se esforçavam por sorrir, mas agora é que a alegria se tornara impossível. É que o pranto evocara por associação a imagem indesejável de meu pai morto. Meu pai, com sua figura cinzenta, vinha pra sempre estragar nosso Natal, fiquei danado.

Bom, principiou-se a comer em silêncio, lutuosos, e o peru estava perfeito. A carne mansa, de um tecido muito tênue boiava fagueira entre os sabores das farofas e do presunto, de vez em quando ferida, inquietada e redesejada, pela intervenção mais violenta da ameixa preta e o estorvo petulante dos pedacinhos de noz. Mas papai sentado ali, gigantesco, incompleto, uma censura, uma chaga, uma incapacidade. E o peru, estava tão gostoso, mamãe por fim sabendo que peru era manjar mesmo digno do Jesusinho nascido.

Principiou uma luta baixa entre o peru e o vulto de papai. Imaginei que gabar o peru era fortalecê-lo na luta, e, está claro, eu tomara decididamente o partido do peru. Mas os defuntos têm meios visguentos, muito hipócritas de vencer: nem bem gabei o peru que a imagem de papai cresceu vitoriosa, insuportavelmente obstruidora.

— Só falta seu pai...

Eu nem comia, nem podia mais gostar daquele peru perfeito, tanto que me interessava aquela luta entre os dois mortos. Cheguei a odiar papai. E nem sei que inspiração genial, de repente me tornou hipócrita e político. Naquele instante que hoje me parece decisivo da nossa família, tomei aparentemente o partido de meu pai. Fingi, triste:

— É mesmo... Mas papai, que queria tanto bem a gente, que morreu de tanto trabalhar pra nós, papai lá no céu há de estar contente... (hesitei, mas resolvi não mencionar mais o peru) contente de ver nós todos reunidos em família.

E todos principiaram muito calmos, falando de papai. A imagem dele foi diminuindo, diminuindo e virou uma estrelinha brilhante do céu. Agora todos comiam o peru com sensualidade, porque papai fora muito bom, sempre se sacrificara tanto por nós, fora um santo que "vocês, meus filhos, nunca poderão pagar o que devem a seu pai", um santo. Papai virara santo, uma contemplação agradável, uma inestorvável estrelinha do céu. Não prejudicava mais ninguém, puro objeto de contemplação suave. O único morto ali era o peru, dominador, completamente vitorioso.

Minha mãe, minha tia, nós, todos alagados de felicidade. Ia escrever «felicidade gustativa», mas não era só isso não. Era uma felicidade maiúscula, um amor de todos, um esquecimento de outros parentescos distraidores do grande amor familiar. E foi, sei que foi aquele primeiro peru comido no recesso da família, o início de um amor novo, reacomodado, mais completo, mais rico e inventivo, mais complacente e cuidadoso de si. Nasceu de então uma felicidade familiar pra nós que, não sou exclusivista, alguns a terão assim grande, porém mais intensa que a nossa me é impossível conceber.

Mamãe comeu tanto peru que um momento imaginei, aquilo podia lhe fazer mal. Mas logo pensei: ah, que faça! mesmo que ela morra, mas pelo menos que uma vez na vida coma peru de verdade!

A tamanha falta de egoísmo me transportara o nosso infinito amor... Depois vieram umas uvas leves e uns doces, que lá na minha terra levam o nome de "bem-casados". Mas nem mesmo este nome perigoso se associou à lembrança de meu pai, que o peru já convertera em dignidade, em coisa certa, em culto puro de contemplação.

Levantamos. Eram quase duas horas, todos alegres, bambeados por duas garrafas de cerveja. Todos iam deitar, dormir ou mexer na cama, pouco importa, porque é bom uma insônia feliz. O diabo é que a Rose, católica antes de ser Rose, prometera me esperar com uma champanha. Pra poder sair, menti, falei que ia a uma festa de amigo, beijei mamãe e pisquei pra ela, modo de contar onde é que ia e fazê-la sofrer seu bocado. As outras duas mulheres beijei sem piscar. E agora, Rose!...
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Mário de Andrade (1893-1945), nasceu em São Paulo, mostrando desde cedo inclinação pela música e literatura. Seu interesse pelas artes levou-o a realizar em São Paulo, de parceria com Oswald de Andrade, a Semana de Arte Moderna, que rasgou novas perspectivas para a cultura brasileira. Sua obra, essencialmente brasileira, reflete um nacionalismo humanista, que nada tem de místico e abstrato. Macunaíma, baseada em temas folclóricos é, geralmente, considerada a sua obra-prima.
FONTE: http://www.releituras.com/marioandrade_natal.asp

sábado, 6 de agosto de 2005

Ai, ai, ai, ai... Tá chegando a hora...

Sabadão, meu último dia de férias, de Itapira full-time... Mas começa uma nova etapa rumo a algo que não sei direito o que será, mas que sei que será!
E voltando às origens, vou postar um artigo interessantíssimo sobre as inspirações noturnas e uma citação que deve ter algo a ver com o artigo... E não terá nenhum texto meu por um bom tempo, o que não é nada extremamente lastimável...
Chega de reticências! Vamos às exclamações!
Comentem!
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INTUIÇÕES NOTURNAS

Muitos cientistas, artistas e escritores consideram os períodos de sono como as horas de criatividade mais intensa. Nessas ocasiões, os nexos lógicos habituais são suspensos e “sonhamos de olhos abertos”.

Por Edoardo Altomare (tradução de Alexandre Massella)

Na última noite de 1997, Roderick MacKinnon, jovem pesquisador da Universidade Rockefeller de Nova York, trabalhava na definição do sistema molecular cujo funcionamento está na base da abertura e do fechamento de alguns canais celulares – os chamados canais iônicos, que servem para a passagem de íons de sódio através das membranas das células. A existência desses canais já era conhecida, mas ninguém conseguira, até então, distinguir sua estrutura e seu funcionamento, em virtude da dificuldade de “ver” a passagem dos íons por meio de imagens de alta resolução. O pesquisador compreendeu que o objetivo só poderia ser alcançado pelo uso da cristalografia de raios X: naquela noite refletia sobre essa questão, quando lhe ocorreu uma idéia inesperada. “Meus momentos mais produtivos são aqueles em que não consigo dormir”, revelou MacKinnon ao receber, graças àquela descoberta, o Prêmio Nobel de Química de 2003, junto com Peter Agre.

MacKinnon descreve assim a noite da descoberta: “De repente, uma imagem manifestou-se com clareza diante de meus olhos e vi, com todos os detalhes, a passagem dos íons através dos canais celulares”. Enquanto outros brindavam a chegada do novo ano, o cientista caminhava excitado em seu laboratório. Na manhã seguinte, após um sono breve e agitado, MacKinnon acordou com medo de que tudo não passasse de um sonho: “Corri para o laboratório, liguei o computador e averigüei a intuição: os íons estavam lá, atravessando os canais”. Foi assim que o jovem MacKinnon – hoje com quase 50 anos – assombrou a comunidade científica ao apresentar, em abril de 1998, a estrutura e o funcionamento do canal iônico.

A noite é o momento mágico da criatividade também para Alexei Abrikosov, Prêmio Nobel de Física de 2003: “Durante o dia penso nas fórmulas e faço os cálculos – declarou em Estocolmo, ecoando o colega MacKinnon –, mas os melhores momentos de minha atividade científica são à noite”. Há também vários insones produtivos entre poetas, artistas e escritores. Para ficarmos no âmbito científico: atribui-se a Einstein a afirmação de que os cientistas criativos são os únicos que tem acesso aos próprios sonhos. O caso do químico alemão August Kekulé é exemplar a esse respeito: ele “viu”em sonho, na imagem de uma serpente que mordia a própria cauda, a estrutura química em anel do benzeno. Podemos citar também o caso do matemático inglês Alan Turing, que parece ter intuído a máquina universal enquanto estava deitado em um gramado, num estado entre a vigília e o sono: uma espécie de sonolência desperta, lúcida e criativa, durante a qual afloram às vezes, em particular nas mentes bem preparadas, as soluções para problemas difíceis.

O significado do comentário de Einstein era talvez mais geral. Para alguns, o grande físico estaria se referindo ao fato de que a mente pode funcionar tanto por intuição como pelos ditames do bom senso e que, para descobrir algo novo, o cientista – como qualquer outra pessoa – deve escapar ao domínio imposto à “imaginação” por nossas faculdades lógicas, subvertendo o saber convencional do qual dependem as habilidades cotidianas. “Segundo a teoria freudiana”, observa Orlando Todarello, professor de psicoterapia da Universidade de Bari, “o sonho é uma atividade pouco organizada de pensamento que foge (embora não totalmente) ao controle da racionalidade e da censura”.

:: Caprichos da imaginação
“Na minha experiência”, comenta o químico americano Royston Roberts, autor de um livro sobre descobertas acidentais, “a imaginação e a memória estão mais ativas durante o sonho ou a sonolência. Raramente tive uma idéia quando estava sentado em minha sala na Universidade do Texas”. Roberts acrescenta que é mais provável que as melhores idéias sejam elaboradas nas primeiras horas da manhã, em um avião, durante um passeio ou num concerto. Charles Townes, Prêmio Nobel de Física de 1964, estava admirando flores no parque de Washington quando, de súbito, compreendeu o procedimento relativo ao laser. E Kary Mullin, Prêmio Nobel de Química de 1993, dirigia despreocupado seu carro quando teve a intuição que o levou à descoberta da Pcr, a reação em cadeia da polimerase que permite a ampliação e a identificação de fragmentos mínimos de DNA.

Para Todarello, “trata-se de uma condição similar à do sonho de ‘olhos abertos’, que lembra a chamada ‘regressão a serviço do Eu’, proposta por Ernst Kris”. Historiador da arte e psicanalista vienense, Kris (1900-1957) estudou as relações entre a criação artística e os fenômenos psicológicos profundos. Todarello explica que “quando se regride a estados menos organizados da atividade psíquica, são suspensos os nexos lógicos habituais e o material psíquico se mistura de forma confusa, permitindo intuições e novas associações”.

A intuição – definida pelos filósofos como uma forma privilegiada de conhecimento, que permite a posse imediata e total do objeto – desempenha um papel decisivo na criatividade, em particular na científica. É uma espécie de túnel sob os procedimentos lógicos habituais, que só alguns conseguem escavar e assim alcançar a verdade. “Enquanto a razão”, prossegue Todarello, “segue circuitos corticais complexos e lentos, a intuição, assim como a emoção, é uma modalidade rápida de conhecimento da realidade”.

Mas há uma questão crucial: para resolver um problema, para ativar nossa capacidade de compreender repentinamente a “linguagem das coisas”, é melhor estar desperto e insone ou dormir? Muito ainda precisa ser esclarecido a esse respeito, como sugere uma pesquisa alemã publicada em 2004 na revista Nature. Partindo de relatos sobre intuições fundamentais ocorridas durante o sono, uma equipe de neuroendocrinologistas, psicólogos e neurologistas da Universidade de Lubecca aplicou um teste matemático: uma tarefa que envolvia o aprendizado de seqüências estímulo-resposta e na qual as pessoas pesquisadas podiam melhorar gradualmente o seu desempenho aumentando a velocidade de resposta. Apresentou-se assim a um grupo de voluntários (66 no total) uma série de oito números junto com uma regra simples por meio da qual devia ser gerada uma segunda série de sete números. As pessoas foram solicitadas a deduzir, no tempo mais breve possível, o valor final da seqüência.

Havia uma “fórmula-atalho” oculta que, caso intuída, permitiria calcular o valor rapidamente. Após o treinamento inicial, as pessoas foram dividas em três grupos: o primeiro estudou o problema à tarde e pôde dormir 8 horas; o segundo enfrentou a tarefa sem repouso noturno; o terceiro, finalmente, foi submetido ao teste pela manhã e desfrutou as 8 horas da vigília diurna normal. As pessoas que haviam se beneficiado do repouso revelaram ser duas vezes mais capazes de intuir a “fórmula-atalho” oculta, não só em relação às que permaneceram acordadas durante a noite como em relação às que ficaram despertas durante o dia. O sono parece assim inspirar e facilitar a intuição. Segundo os autores do estudo, o sono “consolida as recordações recentes e estimula a intuição mediante a reestruturação delas”.

:: Sono Conselheiro
Enquanto dormimos, nosso cérebro reorganiza as recordações “episódicas”, isto é, as informações relativas a lugares específicos, pessoas, conversas e experiências: essa reorganização dos eventos cotidianos pode explicar o melhor desempenho das pessoas que repousaram. É assim que Jan Born, neuroendocrinologista e coordenador da pesquisa, interpreta os resultados obtidos: “Acreditamos que as recordações recentes são armazenadas em uma área cerebral particular, o hipocampo, enquanto a memória ‘permanente’ parece ser acomodada em uma área diferente, o neocórtex. No sono, as recordações podem ser desviadas de uma região cerebral para a outra e são reordenadas durante esse processo”.

Sidarta Ribeiro, neurobiólogo da Duke University de Durham, na Carolina do Norte, considera que “na fase REM, caracterizada por movimentos oculares rápidos, as informações talvez sejam reorganizadas”. No fundo, segundo Ribeiro, isso é apenas a demonstração de uma lei já observada pelas pessoas de bom senso: “durma” é mesmo o melhor conselho para quem enfrenta dificuldades na solução de um problema complexo. O sono, segundo um estudo de Born e colegas, reforça o “pensamento lateral”. O conceito não corresponde exatamente ao de “criatividade”; esta se refere simplesmente à produção de algo novo, enquanto o pensamento lateral diz respeito à alteração de conceitos e percepções.

Compreender o que o cérebro realiza enquanto dormimos ainda é um objetivo a ser perseguido. Os especialistas em transtornos do sono, no entanto, enfatizam todos a importância de um bom repouso noturno. Mas John Shneerson, neurologista inglês do Papworth Hospital, em Cambridge, adverte alarmando: “Não dormimos o suficiente”. E não se trata apenas de uma tendência, ele acrescenta, mas de uma verdadeira epidemia, favorecida pelo ritmo alucinante de nossa vida, sobretudo no trabalho. Os especialistas em sono aconselham assim um curioso remédio: um cochilo regenerador (um power nap de meia hora) no escritório para reativar a criatividade enfraquecida. Uma solução que várias pessoas já intuíram e puseram em prática há muito tempo.

PARA CONHECER MAIS:

Sleep inspires insight. Ulrich Wagner, Steffen Gais, Hilde Haider, Rolf Verleger e Jan Born, em Nature, nº 427, págs. 352-355, 22 de Janeiro de 2004.

Enciclopédia Oxford della mente. Richard L. Gregory, Benedetto Saraceno e Elena Stemai (orgs.). Sansoni Editore, 1991.

Serendipity. Accidental discoveries in science. Roystom M. Roberts. John Wiley & Sons, 1989.
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Edoardo Altomare é médico oncologista e jornalista. É autor de Influenza e Medicine & Miracoli. Dal Siero Bonifácio al Caso Di Bella, entre outros livros científicos.

FONTE: Revista Viver Mente & Cérebro, ano XII nº150, de julho de 2005, págs. 84 a 87. Site: http://www.vivermentecerebro.com.br/ . ISSN 1807-1562. Duetto Editorial, São Paulo, SP, Brasil.

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Já diziam os antigos...
"O homem toma por inteligência o uso das suas faculdades de imaginação."
Louis Scutenaire

domingo, 31 de julho de 2005

Ainda não...

Sem enrolar: vou postar (de novo) somente um texto meu e uma frasezinha.
Comentem!
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“Minha mãe mandou eu escolher...” ou “Entre a azul e a vermelha”
Lucas do Carmo Lima

A indecisão do homem é, realmente, uma coisa a se pensar. Em cada conversa, em cada beco, cada troca de roupa, cada escolha de livro, CD ou até mesmo companhia! Grandes catástrofes já foram causadas e evitadas por grandes homens com grandes dilemas... Os planos e as atitudes são bem pensados, bem medidos, bem pesados, e bem divergentes: isso é, basicamente, uma intriga, uma peleja, uma batalha interna pela supremacia do cidadão indeciso... São duas idéias que discutem entre si, e não chegam em acordo antes de qualquer arroubo de impaciência de seu portador, cuja angústia ou irritação estão, a esse ponto, insuportáveis.

Eu me considero um ás dos debates mentais, um Picasso na arte da indecisão. Seja pra escolher a meia mais confortável, o curso universitário que dará rumos à minha vida (pelo menos por enquanto), pra escrever alguma coisa mais ou menos sentimental ou “desabafatória”, apaixonada ou sisuda... Até pra terminar esse parágrafo bateu uma dúvida!

Duvidar é realmente minha segunda melhor habilidade, principalmente quando se trata das coisas que eu faço, penso ou sinto. Não chega a ser uma dúvida existencial, mas quase isso. É tão visceral que tem dias que eu acordo apenas para duvidar; e chega a ser perturbador, porque eu acabo não me suportando de tanto examinar caras, bocas, falas e escritas, procurando insinuações, entrelinhas, objetivos, indiretas, e qualquer coisa que possa se esconder por trás de um “ã-hã” ou “é mesmo?”. Não há cristão que agüente ficar quase automaticamente analisando minuciosamente pessoas por horas. Quando se dá conta, já é tarde, e já foi perdido um tempo precioso analisando puro ouro-de-tolo.

Se você der uma boa olhada, perceberá que a dúvida é o primeiro passo para uma indecisão. É só surgir aquela interrogação que despontam duas respostas, essencialmente antagônicas, cada uma em seu respectivo lado, tecendo e desmanchando argumentações dentro da sua cabeça. Às vezes eu até vejo as listas de justificativas, em confronto (coisa de maluco).

Eu sou bom nessas brigas internas, mas odeio isso. Queria ser mais decidido, ter mais iniciativa! Um simples telefonema chega a ser um tormento interno; o coração se aperta de tanta aflição, e, dependendo da pessoa escolhida, acaba por trazer uma irritação e uma perturbação! A indecisão é, de forma inconteste, algo que me faz sentir um menininho entre o maldito “clube do Bolinha” e a Luluzinha.

Por isso, por muitas vezes quem lê esses textos vai deparar-se com um instigante “não sei”. Não se preocupe, eu também não sou muito simpático a essa resposta, mas é a mais neutra (alguma dúvida disso?) e confortável que pode encontrar um indeciso devotado como eu. Meus amigos vão concordar comigo se eu disser que eles vão ouvir muitos “porque sim!” e “não tenho a menor idéia” se me botarem contra a parede em algum assunto mais delicado; se não concordaram agora, hão de concordar um dia...

Alguma dúvida?
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Lucas do Carmo Lima é... Digo ou não?
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Já diziam os antigos...
"Não acredite em ninguém que sempre diz a verdade" Elias Canetti

segunda-feira, 25 de julho de 2005

Fico devendo...

Gente, como eu não achei absolutamente nada científico, curto e interessante pra postar, vou postar só um outro texto meu, fruto das minhas madrugadas solitárias, e uma frase de alguém muito esperto!
Façam o sacrifício, comentem!
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Inspiração em lua cheia

Lucas do Carmo Lima

Hoje, mais uma madrugada fértil de sentimentos e entupida de paciência, estou escrevendo. Mas hoje tive uma luz diferente: a da lua. Mas não estou como seria um poeta de poemas, coberto pelo véu translúcido da inspiradora e noturna confidente do namorados... Não, não! Eu apenas fui lá fora e admirei aquela beleza de lua, branca, brilhante e...

Bom, já deu pra entender.

Por assim dizer, ouso considerar-me um aspirante a poeta de prosa, do texto corrido. Ainda não tenho, e acho que nunca terei, a capacidade de escrever algum poema em solo. Esse refino estético não faz parte do meu repertório; poema com meu nome só se for de intrometido e palpiteiro. E também prefiro uma escrita em tom de conversa, sabe... Eu não sou daqueles que papeiam por aí usando decassílabos em soneto, logo me compete escrever do jeito que eu falaria pra alguém.

Eu até já tentei escrever um poema sozinho, o que foi de uma petulância extrema. Foi o “poema” mais malfeito e artificial que li em toda minha vidinha. A minha prosa me soa mais sincera que meu parco esforço em versos, flui melhor; e também tem a coisa da naturalidade da conversa, a música informal das conversas me atrai de uma forma quase gravitacional. Sou capaz das coisas mais imbecis e irresponsáveis por uma boa conversa (quem conhece, sabe).

Aliás, devo deixar marcada aqui minha admiração pelos meus queridos amigos poetas. Não seria eu se não reconhecesse o talento e o feeling desses heróis e heroínas do poema bem escrito, a originalidade, do bom gosto e do conjunto da obra. São mentes assim que dilatam as cabeças dos leitores... Vertentes diferentes que convergem para a mesma meada: a da arte, como ela deve(ria) ser.

Um dia, creio eu numa aula sobre literatura, o professor expôs uma idéia muito interessante, a qual quero lembrar eternamente. Ele disse que aquela estrutura em versos e estrofes é o poema, enquanto poesia deve ser o sentimento, o âmago da obra. Digo que a poesia é aquela coisa que nos deixa ver, por detrás do estilo, da rima e das palavras, os olhos do poeta. Indo ainda mais longe, e utilizando uma audácia talvez já aos pés da de Giordano Bruno, posso dizer que “poesia” é “aquilo que só se diz com os olhos”.

A lua de hoje é cheia. Cheia de poemas, de beleza, da luz, e cheia, mesmo. A lua é o olho da noite, e talvez seja por isso que ela sussurre tanta poesia ao espírito do poeta, do homem. A lua pode recitar toda uma vida, assim como levar um apaixonado beijo de “boa noite” à minha Lua.

Estou girando; diz-se mesmo que a vida, assim como o planeta, dá voltas. Espero minha Lua assim como a noite espera sua lua. Espero estar chegando ao fim de um dia na minha, que vem ficando meio sem poesia, pra encontrar logo uma Lua na minha noite.
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Lucas do Carmo Lima é...
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Já diziam os antigos...
"Os olhos são as janelas da alma." Alguém muito sábio


segunda-feira, 18 de julho de 2005

Abafos e desabafos

Primeiro, o abafo: abafei o último post, gente! Leiam-no, que ele tá legal e fresquinho!
Depois, o desabafo: depois de redigir o post ao qual me refiro acima, me deu vontade de escrever, e saiu o que saiu. Ah, e se importa a alguém, meu humor melhorou um pouco (já respiro melhor, hehehe... Tá vendo!).
E não se esqueçam: comentem por favor! Obrigado, se comentarem...
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Berro no vácuo?
Lucas do Carmo Lima

Deu-me uma vontade de escrever...

Estava eu pensando agora: eu sou feliz? Porque, de uns tempos pra cá, venho me questionando sobre esse problema, que somente se resolve quando os pensamentos dele desviam e a gente acaba por enfiá-lo por debaixo do travesseiro, antes de dormir. Mas, enquanto a gente sente aquela maldita coceira dentro do ouvido, não há sossego.

Pelo começo: o que é felicidade? Ué, aquilo que nos faz esquecer de tudo e lembrar só dela, tanto a própria quanto a alheia. Quantas vezes um sorriso orelha-a-orelha já me irritou! Aquela felicidade transbordante; até os olhos sorriem; a pessoa transforma-se num arco sorridente... A minha vontade é de socar essas pessoas, de vez em quando. E, depois de uma boa e raivosa sova, bradar ainda babando colericamente: Olha a sua felicidade agora!; Ri agora, vai!

Inveja é uma desgraça mesmo, né? É um dos braços fortes da infelicidade... Quando você se ouvir murmurar por entre os dentes rangentes pérolas como “Até parece que tá tão feliz assim...” já terá sucumbido, sem recursos ou contragolpes; aceitar o fato facilitará as coisas, já que condenar a inveja própria é condenar sua face oculta, parte imutável e, lamentavelmente, arredia. Lamentavelmente não! Mas ainda bem que arredia; os mais comedidos explodiriam diante da pressão desses sentimentos amorais represados, se isso fosse possível.

Ah, a raiva! Um dos piores humores, e dos mais teimosos e obstinados humores! Mas eu falo da raiva brava mesmo, aquela que a felicidade dos outros planta na infelicidade da gente. É daqueles que nos levam ao caminho anárquico da vingança fervente (aquele que disse que a vingança é um prato que se come frio era um belo dum mentiroso; a vingança a gente esquenta em banho-maria, isso sim!), mas corrói os angustiados... A raiva é pra ser um tapa na cara do mundo (ou de todo mundo), não na cara do próprio raivoso (desculpem-me, angustiados, a crítica foi inevitável).

Bom, falava de ser feliz... Acho que não sou feliz por completo, sabe... É, não ainda... Falta-me uma coisinha que me causa inveja e raiva (ou infelicidade)... Não sei nem se consigo escrever isso! Pra mim é difícil dizer esse tipo de coisa, sabe... Aquilo que aflora nos puros corações apaixonados, que aquece os espíritos e amortece as quedas, que, enfim, é... Já entenderam, aposto! Então, é isso que me falta, compartilhar isso! Não me basta o céu, quero as estrelas! Imaginar os momentos, eu já o fiz; falta viver, vivenciar...

Falta, da felicidade, a parte mais complicada, as quatro letrinhas... Oh, pedaço de mim! (Chico, desculpe-me você também, que sua palavra merece melhor abrigo) Quando está mais próximo, parece ainda tão escorregadio... Caminhos tortuosos levam também a destinos certo; falta-me percorrer o caminho. Iniciativa? Decisão? Ação? Devem faltar também, sem ou com dúvida... Barreiras? Não acho tão intransponíveis assim. Mas há o outro lado, o outro elo, a metade (que chavão horrível!) que teima em ir e vir e ir!

É recíproco? Paciência não me falta; e a ela? Que coceira nos ouvidos!
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Lucas do Carmo Lima sou eu mesmo, quem quer que eu seja pra você.

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Já diziam os antigos...

"Tudo vale a pena se a alma não é pequena." Fernando Pessoa

Berro no vácuo?

Fruto da (in)decisão, vou postar uma obra de Bertold Brecht, adaptado para o programa Provocações, da TV Cultura. Alíás, foi do site do programa (http://www.tvcultura.com.br/provoca) que tirei o texto. Ele será a arte, o artigo e a frase desta postagem. Satisfeitos? (Desculpem a falta de bom humor.)
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Se os tubarões fossem homens
Bertold Brecht

Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais.

Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias, cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim que não morressem antes do tempo.

Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.

Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões.

Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos.

Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos.

Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência.

Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista e denunciaria imediatamente aos tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.

Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre sí a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros.

As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que entre eles os peixinhos de outros tubarões existem gigantescas diferenças, eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro.

Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.

Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, havia belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nos quais se poderia brincar magnificamente.

Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos tubarões.

A música seria tão bela, tão bela que os peixinhos sob seus acordes, a orquestra na frente entrariam em massa para as guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos .

Também haveria uma religião ali.

Se os tubarões fossem homens, ela ensinaria essa religião e só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida.

Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros.

Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar e os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiro da construção de caixas e assim por diante.

Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.
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Bertold Brecht (1898-1956), nascido em Augsburgo. Escritor e dramaturgo alemão, além de grande teórico teatral. Desde menino escrevia poesias de forte conteúdo social. Foi perseguido pelos nazistas pelo seu comunismo militante.

domingo, 10 de julho de 2005

Dia Mundial da Pizza!

Hoje eu estou feliz!
Então vou ser breve: hoje vou colocar a letra da música "Samba em Prelúdio", de Vinicius de Moraes e Baden Powell, que é sublime, pra não dizer supimpa! Fala por mim, pra mim; é uma beleza (quem conhece a música sabe do que eu estou falando)! E vocês vão ver também: um artigo interessantíssimo do Moacyr Scliar sobre ritmo e poesia (um dos motivos de escolher a música), e, ao invés da frase tradicional, vou postar um poeminha dum poetinha português muito inteligente mas muito azarado.

Sirvam-se, e digam se foi bom pra vocês...
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Samba em prelúdio


Vinicius de Moraes / Baden Powell

Eu sem você
Não tenho porquê
Porque sem você
Não sei nem chorar
Sou chama sem luz
Jardim sem luar
Luar sem amor
Amor sem se dar


Eu sem você
Sou só desamor
Um barco sem mar
Um campo sem flor
Tristeza que vai
Tristeza que vem
Sem você, meu amor, eu não sou ninguém


Ah, que saudade
Que vontade de ver renascer nossa vida
Volta, querida
Os meus braços precisam dos teus
Teus abraços precisam dos meus
Estou tão sozinho
Tenho os olhos cansados de olhar para o além
Vem ver a vida
Sem você, meu amor, eu não sou ninguém


© Tonga Editora Musical LTDA / Direto

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:: literatura - por Moacyr Scliar

O tempo e a literatura

O mito, matriz da poesia e da narrativa, é antídoto contra a ansiedade existencial

É difícil dizer qual o gênero literário mais antigo, mas eu posso apostar na poesia. Não por causa da beleza formal ou das metáforas, mas pelo ritmo. De fato, escutando um poema, a primeira coisa que nos mobiliza é exatamente o ritmo. Que é um componente importante de nossas vidas: há o ritmo cardíaco, o respiratório, e o circadiano (da expressão latina circa diem, "cerca de um dia"), resultado de um ciclo biológico que nos faz dormir ou nos mantém despertos. Um relógio interior cujo funcionamento já está programado em nosso genoma e do qual nos damos conta quando o esquema habitual de nossas vidas é alterado, por exemplo, pela mudança de fuso horário. Esse relógio, localizado no hipotálamo, região do cérebro, marca o nosso ritmo, componente essencial do poema do corpo.

Poesia não é só ritmo, poesia são palavras. Palavras também são componentes essenciais da prosa. Três delas são imprescindíveis: era uma vez. Toda literatura nasce como narrativa e sempre nos remete ao passado, que é o tempo preferido pela maioria dos autores. E por que a literatura nos remete ao passado? Porque tem a mesma origem do mito, esta explicação fantasiosa dos fenômenos da vida e da Natureza. O homem precisa do mito, espécie de antídoto contra a ansiedade existencial. Ora, o passado é o depósito dos mitos. Num mítico passado, coisas maravilhosas aconteciam, em lugares como o Paraíso Terrestre, ou o Monte Olimpo. Durante muito tempo a humanidade viveu com a noção de um tempo imobilizado, em que o passado, o presente e o futuro se confundiam.

Com a modernidade surge uma nova concepção de tempo e de espaço. Na Antigüidade e na Idade Média não havia a preocupação com um registro temporal preciso. Existiam os relógios de sol e os de água, as ampulhetas e outras formas de cronometria, que não estavam, contudo, ao alcance do comum das pessoas. Nessa conjuntura os sinos das igrejas e dos mosteiros desempenhavam papel importante, dando as horas e também anunciando ameaças.

À medida que a atividade econômica se expandia e as cidades cresciam, surgia a necessidade de maneiras mais precisas e individualizadas de marcar o tempo. No curso do século XIV os relógios mecânicos tornaram-se mais comuns na Europa. No começo eram grandes relógios públicos nas torres das igrejas. Substituíam os sinos, mas, para que continuassem cumprindo seu papel religioso, traziam uma inscrição: Mors certa, hora incerta, a hora pode ser incerta, mas a morte é certa. Surgiram, mais adiante, os relógios domésticos e individuais. E eles mexeram com a cultura, introduzindo um novo modo de vida. As atividades de várias pessoas distantes umas das outras agora podiam ser coordenadas em função de um horário preciso. Era uma forma de controle e de autocontrole que abrangia até a vida emocional. Ou seja: ao tempo biológico, o tempo dos ritmos internos, e ao tempo dos ciclos da Natureza (o dia e a noite, sucessão de estações) somava-se agora o tempo social.

Essas mudanças no conceito de tempo refletiram-se na literatura. A partir do século XII um novo gênero começa a surgir, escrito nas línguas derivadas do latim, ou românicas, e por isso conhecido como romance. As narrativas agora não são míticas ou sagradas; têm a ver com pessoas reais ou imaginárias. Essa tendência iria num crescendo, até o século XIX, que marcou o auge do romance, a afirmação do individualismo no literatura. O romance é o espelho ficcional que reflete a pessoa, inclusive a maneira como esta encara o tempo. O tempo exterior é deslocado pelo tempo interior. Ao tempo biológico, ao tempo da Natureza, ao tempo social junta-se assim o tempo psicológico, governado pelas fantasias internas - os mitos que fabricamos. Fecha-se assim um ciclo.
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MOACYR SCLIAR é médico, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras.
FONTE: Revista Viver Mente & Cérebro, ano XIII nº 148, de maio de 2005; página 98. Site: www.vivermentecerebro.com.br . ISSN 1807-1562. Duetto Editorial, São Paulo, SP, Brasil.
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Já diziam os antigos...

"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?" Luis Vaz de Camões

sexta-feira, 1 de julho de 2005

Para a próxima...

Cumprindo minha meta, começa aqui minha atualização semanal. E, descumprindo uma vontade minha e uma pequenina porém significativa promessa aos meus caríssimos colegas, não vou colocar um "poeminha-letra de música" que eu fiz, já que eu procurei, procurei, procurei, mas não o achei (em minha própria quitinete) - parece mentira, mas é a mais pura verdade! Bom, deixemos as possibilidades e trabalhemos agora com as realidades: eu vou postar hoje um poema de uma densidade impressionante (leiam muitas vezes, repetidamente, para um entendimento pleno da mensagem filosófica da obra - e ouçam a linda versão com o grupo Boca Livre, no álbum "Arca de Noé", 1980, Vários artistas, Polygram/Philips) e um texto muito interessante do livro "Psicologia: Uma (nova) introdução". Critiquem, opinem, comentem!
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A casa
Vinícius de Moraes
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque a casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.
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in Poesia completa e prosa: "Poemas infantis". Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998
in Poesia completa e prosa: "Cancioneiro". Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998
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A Psicologia como profissão e como cultura
O psicólogo: funções e mitos
A profissão de psicólogo esteve inicialmente ligada aos problemas de educação e trabalho.
O psicólogo "aplicava testes": para selecionar o "funcionário certo" para o "lugar certo", para classificar o escolar numa turma que lhe fosse adequada, para treinar o operário, para programar a aprendizagem, etc. Todas essas funções ainda são importantes na definição da identidade profissional do psicólogo e mostram claramente como até hoje a vinculação das psicologias às demandas do Regime Disciplinar são importantes.
Mas hoje, quando se fala em psicólogo, o leigo logo pensa no psicílogo clínico, e quem se decide a estudar psicologia quase sempre é com a intenção de se tornar um clínico. Embora durante muitos anos essa especialização nem existisse legalmente, atualmente é a principal identidade do psicólogo aplicado. Enquanto o psicólogo do trabalho ou das organizações serve à indústria ou a qualquer outra instituição, procurando torná-la mais eficiente, e, enquanto o psicólogo escolar serve ao sistema educacional, procurando torná-lo, também, mais eficaz, o psicólogo clínico costuma estar a serviço do indivíduo ou de pequenos grupos de indivíduos.
Parece realmente que é a crise da subjetividade privatizada que incremente a procura pelos serviços da psicologia clínica e faz com que o psicólogo clínico acabe se tornando uma figura quase popular entre certas camadas da população.
O psicólogo aparece para muita gente como uma espécie de adivinho ou de bruxo, que descobre rapidamente quem somos e produz mudanças mágicas no nosso jeito de ser. É bom que todos saibam das dificuldades que tem o psicólogo para entender a sua própria ciência e a sua própria pessoa. Aí, talvez, esperem menos dele...
Alguns psicólogos clínicos, principalmente alguns psicanalistas menos sérios, viraram conselheiros sentimentais e modelos de comportamento charmoso. Aparentemente, nada disso teria a ver com a psicologia como ciência. No entanto, além de sua pretensão à cientificidade, a psicologia é, também, um ingrediente da nossa cultura. Isto quer dizer que é cada vez mais freqüente que as teorias psicológicas se popularizem e sejam assimiladas pelo linguajar popular e que as pessoas cada vez mais pensem acerca de si e dos outros com termos emprestados das escolas psicológicas.
Ao serem incorporadas à vida quotidiana de algumas camadas da população, "as psicologias" convertem-se quase sempre numa visão de mundo altamente subjetivista e individualista. Com isso, queremos dizer que mesmo as teorias psicológicas que não se restringem à experiência imediata de subjetividade individualizada, como a psicanálise, ao serem assimiladas pela sociedade, têm se tornado uma forma de manter a ilusão de liberdade e da singularidade de cada um, em vez de compreender e explicar o que há de ilusório nessas idéias. É assim que a psicologização da vida quotidiana tem nos levado a pensar o mundo social e a nós mesmos a partir de uma visão bem pouco crítica.
A psicologia popularizada tem servido para sustentar a palavra de ordem "cada um na sua, pensando os seus problemas e defendendo os seus interesses e a sua felicidade".
Certamente a tendência que tem mais crescido e aumentado seu mercado recentemente é a das "terapias de auto ajuda". Numa mistura de concepções de senso comum ou baseadas em teorias psicológicas, em pressupostos humanistas sobre a liberdade do homem e num estilo de administração empresarial nitidamente comportamentalista, esse discurso (que soa como o de um pastor protestante americano, e isto é mais do que uma coincidência) prega um paradoxal reforçamento do "eu" com uma submissão a um conjunto de regras de gerenciamento da própria vida.
Isso poderia ser designado como hiperindividualismo, e cultivá-lo é exatamente o contrário do que poderíamos esperar de qualquer psicologia científica. Essa afirmativa não parte de uma postura moral do tipo "não é direito pensarmos em nós como se fôssemos o centro do Universo". O problema é que de fato não somos, e a tarefa da ciência moderna tem sido sempre a de nos recordar que o Sol não gira em torno da Terra. Embora pareça.
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FONTE: Figuiredo, L. C. M. & de Santi, P. L. R. Psicologia: Uma (nova) introdução. São Paulo: EDUC, 2004. Páginas 85 a 88.
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Já diziam os antigos...
"Um técnico de laboratório podem ser encarado como uma criança face a face com fenômenos que o impressionam da mesma forma que um conto de fadas." Marie Curie