sexta-feira, 1 de julho de 2005

Para a próxima...

Cumprindo minha meta, começa aqui minha atualização semanal. E, descumprindo uma vontade minha e uma pequenina porém significativa promessa aos meus caríssimos colegas, não vou colocar um "poeminha-letra de música" que eu fiz, já que eu procurei, procurei, procurei, mas não o achei (em minha própria quitinete) - parece mentira, mas é a mais pura verdade! Bom, deixemos as possibilidades e trabalhemos agora com as realidades: eu vou postar hoje um poema de uma densidade impressionante (leiam muitas vezes, repetidamente, para um entendimento pleno da mensagem filosófica da obra - e ouçam a linda versão com o grupo Boca Livre, no álbum "Arca de Noé", 1980, Vários artistas, Polygram/Philips) e um texto muito interessante do livro "Psicologia: Uma (nova) introdução". Critiquem, opinem, comentem!
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A casa
Vinícius de Moraes
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque a casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.
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in Poesia completa e prosa: "Poemas infantis". Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998
in Poesia completa e prosa: "Cancioneiro". Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998
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A Psicologia como profissão e como cultura
O psicólogo: funções e mitos
A profissão de psicólogo esteve inicialmente ligada aos problemas de educação e trabalho.
O psicólogo "aplicava testes": para selecionar o "funcionário certo" para o "lugar certo", para classificar o escolar numa turma que lhe fosse adequada, para treinar o operário, para programar a aprendizagem, etc. Todas essas funções ainda são importantes na definição da identidade profissional do psicólogo e mostram claramente como até hoje a vinculação das psicologias às demandas do Regime Disciplinar são importantes.
Mas hoje, quando se fala em psicólogo, o leigo logo pensa no psicílogo clínico, e quem se decide a estudar psicologia quase sempre é com a intenção de se tornar um clínico. Embora durante muitos anos essa especialização nem existisse legalmente, atualmente é a principal identidade do psicólogo aplicado. Enquanto o psicólogo do trabalho ou das organizações serve à indústria ou a qualquer outra instituição, procurando torná-la mais eficiente, e, enquanto o psicólogo escolar serve ao sistema educacional, procurando torná-lo, também, mais eficaz, o psicólogo clínico costuma estar a serviço do indivíduo ou de pequenos grupos de indivíduos.
Parece realmente que é a crise da subjetividade privatizada que incremente a procura pelos serviços da psicologia clínica e faz com que o psicólogo clínico acabe se tornando uma figura quase popular entre certas camadas da população.
O psicólogo aparece para muita gente como uma espécie de adivinho ou de bruxo, que descobre rapidamente quem somos e produz mudanças mágicas no nosso jeito de ser. É bom que todos saibam das dificuldades que tem o psicólogo para entender a sua própria ciência e a sua própria pessoa. Aí, talvez, esperem menos dele...
Alguns psicólogos clínicos, principalmente alguns psicanalistas menos sérios, viraram conselheiros sentimentais e modelos de comportamento charmoso. Aparentemente, nada disso teria a ver com a psicologia como ciência. No entanto, além de sua pretensão à cientificidade, a psicologia é, também, um ingrediente da nossa cultura. Isto quer dizer que é cada vez mais freqüente que as teorias psicológicas se popularizem e sejam assimiladas pelo linguajar popular e que as pessoas cada vez mais pensem acerca de si e dos outros com termos emprestados das escolas psicológicas.
Ao serem incorporadas à vida quotidiana de algumas camadas da população, "as psicologias" convertem-se quase sempre numa visão de mundo altamente subjetivista e individualista. Com isso, queremos dizer que mesmo as teorias psicológicas que não se restringem à experiência imediata de subjetividade individualizada, como a psicanálise, ao serem assimiladas pela sociedade, têm se tornado uma forma de manter a ilusão de liberdade e da singularidade de cada um, em vez de compreender e explicar o que há de ilusório nessas idéias. É assim que a psicologização da vida quotidiana tem nos levado a pensar o mundo social e a nós mesmos a partir de uma visão bem pouco crítica.
A psicologia popularizada tem servido para sustentar a palavra de ordem "cada um na sua, pensando os seus problemas e defendendo os seus interesses e a sua felicidade".
Certamente a tendência que tem mais crescido e aumentado seu mercado recentemente é a das "terapias de auto ajuda". Numa mistura de concepções de senso comum ou baseadas em teorias psicológicas, em pressupostos humanistas sobre a liberdade do homem e num estilo de administração empresarial nitidamente comportamentalista, esse discurso (que soa como o de um pastor protestante americano, e isto é mais do que uma coincidência) prega um paradoxal reforçamento do "eu" com uma submissão a um conjunto de regras de gerenciamento da própria vida.
Isso poderia ser designado como hiperindividualismo, e cultivá-lo é exatamente o contrário do que poderíamos esperar de qualquer psicologia científica. Essa afirmativa não parte de uma postura moral do tipo "não é direito pensarmos em nós como se fôssemos o centro do Universo". O problema é que de fato não somos, e a tarefa da ciência moderna tem sido sempre a de nos recordar que o Sol não gira em torno da Terra. Embora pareça.
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FONTE: Figuiredo, L. C. M. & de Santi, P. L. R. Psicologia: Uma (nova) introdução. São Paulo: EDUC, 2004. Páginas 85 a 88.
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Já diziam os antigos...
"Um técnico de laboratório podem ser encarado como uma criança face a face com fenômenos que o impressionam da mesma forma que um conto de fadas." Marie Curie

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu não acrediiiiiiiiiiiiito! Eu adoro essa música!!!! Você estava no dia que eu e a Raquel chegamos na aula da Norma cantando ela???
Me lembra tanta tanta tanta coisa boa de quando eu era pequena... (já sei, já sei, ainda sou pequena, mas vc entendeu! :) )
Beijoca,
Tati

Anônimo disse...

oi Lucasss!!! Puxa... adorei este post!!! Principalemente a frase final.. =)
O sarau vai rolar, hein? eu e tati vamos articulá-lo durante as férias... pra correr tudo certo no começo do semestre... e a gente se divertir pakas!
Queria estar aí na despedida hj... Beijão pra vc!
ÓÓÓÓTIMASSSS FÉRIAS!!!!

Anônimo disse...

Grande Lucas dos grandes textos. Quando você e a galera entrarem pro mercado profissional vão poder entender melhor ainda a que o autor se refere quando cita a "liberdade ilusória".
Dica: sempre que vc atualizar o blog, mande uma mensagem pra nossa lista de mails.
Abração, boas merecidas férias!

Anônimo disse...

oi, vc....
passando só para agradecer os comentários no meu blog!
Chegou a ver a Balada do Morto Vivo? Entra nos comentários do Soneto da Quarta-Feira de Cinzas e vc acha ela lá!
Beijoca!