quinta-feira, 8 de março de 2007

A volta do bloguêmio

Olás!
Primeiro, peço perdão pelo trocadilho escroto do título.
Postar isso no Dia Internacional da Mulher só pode ser sacanagem comigo, não? Hahaha...
Volto à ativa no blog, assim como estarei voltando à ativa no curso de Psicologia também. Como voltar à ativa requer tempo, economizarei no falatório hoje. Posto aqui um texto bem atual (tipo de hoje) que eu acabei de escrever, que é meio tosquinho mas tá valendo. E indico três belas músicas (que acompanham bem o texto; praticamente o amendoim que acompanha o truco).
Atés!
Um cachorro que caiu da mudança (08/03/2007)

Lucas do Carmo Lima

Estou perdido.

Desde a última vez que me senti assim... Bom, não me lembro se já me senti assim, nesta forma tão instável e estranha. Não posso nem dizer que me sinto vazio, um oco da alma... Não, isso não. O que há dentro de mim é mais do que eu posso descrever. Posso sentir, posso tocar. Mas não está tão dentro mais; está mais é fora. A verdade e tudo mais estão lá fora, me olhando de raspão, sem interesse nem muita atenção.

É uma sensação de ser prisioneiro de uma guerra fria. Nem te mataram, nem te venceram... Mas te largaram, te esqueceram. Nem ao inimigo serves mais. Não és ameaça ou troféu, mas apenas os restos do desprezo que a desimportância proporciona.

Talvez não seja nem desprezo o que sinto. É a indiferença mortal que acontece quando parece que só pra ti as coisas aconteceram, e o resto do mundo não viu nem um segundo de tudo o que passaste. As pessoas tocam suas vidas como um barco a ser remado a favor da correnteza, enquanto tu estiveste o tempo todo a remar para o lado contrário, tentando ver pela última vez alguém pelo qual você passou e que nem está mais lá. O que restou é a idéia intransponível e renitente de que, a qualquer momento, verás o tal alguém, e, naquele momento, poderás pensar que tudo pôde valer a pena.

Eu já não posso agüentar esta situação desgraçada. Eu estou vivendo meus dias todos, há seis meses, a lembrar e lamentar. E uma esperança que não cessa insiste, mesmo que ínfima, a negar sua insignificância. Por mais que eu aceite minha debilidade em lidar com os fatos naqueles dias tão dourados quanto cinzentos, parece que não tenho como escapar da lembrança sórdida que me surge.

É difícil ter que admitir que não saiba lidar com a derrota, principalmente quando é algo que mereceu tanta teimosia. É difícil perder para a derrota. Eu perdi e, por mais que os cenários mais otimistas que eu imagine me inspirem, jamais estarei sequer próximo a tudo o que eu quis naqueles dias. Nada que eu fiz de caso pensado deu certo. O que eu fiz por acaso, tampouco. É difícil admitir que não superei nada disto ainda e que meu coração pulsa pesado e dolorido ao escrever estas palavras.

Admitir é difícil. E quando se recebe tudo facilmente, como uma conseqüência natural das coisas, ou, pelo menos, se vê as coisas desta maneira, admitir é complexo, é algo que não se entende. Quando persistir nunca foi tão preciso e falhei. Porque não adianta nada persistir por dentro; tens que persistir para fora, tens que canalizar para poder direcionar, e não concentrar para explodir e esvaziar.

Olho ao meu redor e vejo só felicidade. Sorrisos por todos os lados. A alegria que emana das pessoas é um raio de luz nos olhos, que ofusca a visão. E eu aqui, na sombra que eu mesmo faço com as mãos, que tremem de nervosas. Nunca estive tão triste por não ter o que nunca tive. Jamais isso me afetou tanto quanto hoje. Por ser que seja porque hoje isto está mais próximo de mim, mais claro e evidente. Ou porque já esteve pra mim, clara e evidentemente, que a minha vez havia chegado, que a hora estava sendo contada em modo regressivo e que os instantes passavam serelepes sabendo de tudo que os sucederia.

Ninguém mais me é ideal. Ninguém mais me é assim tão especial; ninguém mais se destaca tanto no meio do povo. Não tem mais quem eu olhe, então eu olho para tudo. Perdi o objeto final, o destino horizontal de minha admiração. E estou completamente jogado entre minhas tralhas sentimentais. Estou entre a elaboração literária e o fato literal. No fio da navalha. Melhor, estou na sarjeta. Eu estava na sacada e agora tento achar as fotos antigas no sótão.

Não quero crer que meus dias irão correr desta forma, e talvez mais áridos e intensos, com o início de uma terrível rotina de “flashbacks” do castelo de areia que eu estava construindo e caí em cima. Não quero, mas tenho que esperar isso, para que eu não me quebre mais ainda. É mais ou menos como naquela velha frase sobre a crença nas bruxas...

Sinto que quero dizer que não sei de mais nada, virar pra janela e olhar o pôr-do-sol sem temer o que virá no próximo amanhecer. Mas agora é noite alta, e o amanhã é algo que ainda me assusta. Tenho muitas incertezas sobre o que vai acontecer daqui pra frente em certas coisas da minha vida, outras não me preocupam... De vez em quando eu queria ter sido como as outras pessoas que eu conheço, sabe... Com uma vida um pouco mais corriqueira, menos anormal. Uma vida tão previsível quanto minhas falas de efeito. Uma vida tão previsível quanto minhas brincadeiras sem graça. Mas as minhas coisas andam num ritmo pouco marcial, talvez tão sinuoso quanto as opiniões que as pessoas têm de mim. Ou que eu acho que têm, porque as pessoas não dizem pra qualquer um e nem a todo momento a opinião que têm sobre outras pessoas.

Algumas pessoas que conheço já me disseram, quando conversando sobre beber demais e fazer coisas desprezíveis das quais as pessoas se gabam tolamente, que “quem não bebe não tem histórias”. Talvez, pensando por este lado, a minha vida, pouco usual do jeito que vem sendo nos últimos 19 anos, seja a grande história que contarei pros meus filhos e netos. Um história que pode não ser gloriosa, etílica ou digna de orgulho até lá, mas será, no mínimo, curiosa. E uma história que não deverá ser repetida.
A(s) Boa(s) do DJ Lucão
(o nome não poderia ser mais idiota, mas o que vale é a ideia, não é verdade?)

Moon River, Henry Mancini
Pedacinho do Céu, Waldir Azevedo
Stuck In A Moment, U2

6 comentários:

Anônimo disse...

hei Lu-cão
o que seria o mais importante o que se fez ou o que se sentiu? qual historia é melhor aquela cheia de fatos mirabolantes incertos de um bebado (que sempre vem cheia de medos escondidas nas suas linhas) ou aquela cheia de verdades puras e simples?
cada um esoclhe seu caminho e faz o que bem entende... e talvez falte ver por outros angulos a historia XDDD
entaun se cuide
t+

Anônimo disse...

Lucasboy...
Primeiro quero responder ao seu comentário: eu não sei alguém pode ser mais ou menos poeta, mas se puder, nem eu acho que eu seja tão poeta assim... Nem sempre tenho a gana e a coragem e os olhos de criança que fazem do mundo a verdadeira poesia (essa, do papel ou do PC, pouco importa. é a outra, do lado de fora da janela, que faz diferença).
E agora tenho um gancho pra comentar você (se é que é só um comentário): as histórias não tem que ser iguais, nem todos precisam beber demais pra ter história, apenas aqueles que têm uma vida suficientemente vazia para isso. uma vida que não tem poesia. E poesia, não é só angústia, dor, medo. Ela retrata tudo isso bem, mas ela também tem suas nuances de beleza - quiçá ainda mais belas - das coisas boas. Acho que dá pra perceber que não é só de poesia que falo aqui. Não sei se entendeu o recado, eu simplesmente queria dizer que nós não precisamos ser perfeitos, nós não precisamos ser sempre felizes, nem sempre amados, nem sempre qualquer coisa. Nós só precisamos viver, e a vida é etecétera (como disse guimarães rosa).
Eu acho que, no mais, queria te dizer que essas coisas acontecem. E que a gente continua. E que na hora certa as coisas dão certo. A esperança só é ruim quando não há.
o livro está comprado. Estarei em SanCa amanhã à noite. Se quiser, me liga. ;)
Beijão e se cuida =*

*QUEL* disse...

Lucas...eu te entendo...
Minha existencia, minha vida desregrada nao me levaram para um lugar muito diferente....
Posso aproveitar a sua sombra?
E quem sabe, no proximo amanhecer, o destino nao prepare algo surpreendente.

Beijokas

Prometo que um dia atualizo meu blog. Neste momento é impossivel....

Anônimo disse...

ATUALIZAAAAA!!
;]
Bju

Tatiana disse...

Lucão,
Só não se esqueça dos latinos...
"in vino, veritas"
ou em português mesmo,
"a bebida entra, a verdade sai".
Não menospreze aquilo que parece menos do que perfeito, menos do que certo, menos do que correto, porque nada disso é menos do que verdadeiro.
(disse a garota que tomou um pé na bunda, em seguida tomou um porre, e agora tem mais uma história torta pra contar... rssss. Mas não me arrependo)
Um amigo me disse essa semana, vou repassar: "a vida é curta demais pra que a gente tenha medo de vivê-la"
Beijo procê, e vê se atualiza essa bagaça!

Anônimo disse...

"As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre. (...)"

Clarisse Lispector

"(...) Se você não tem namorado é porque não descobriu que o amor é alegre
e você vive pesando duzentos quilos de grilo e medo,
ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar.
Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança.
De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada.
Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida passar e derepente parecer que tudo faz sentido: 'Enlou-cresça'."

Carlos Drummond

"As pessoas se boicotam muito nas suas vontades, nas suas possibilidades. Deveriam ousar mais, ter a coragem de lutar contra seus fantasmas e encarar essas possibilidades."

S2...S2...S2...